14/04/2011

Escolhas


Maria trazia da sua vida passada a enorme vontade de ser artista.
No outro tempo, no outro mundo, no outro lugar, Maria teve grande contributo a expressar o belo. Esse belo fazia com que Maria se soltasse e deixasse de racionalizar.
Na outra vida, Maria foi perseguida pela expressão que dava às suas obras... No outro mundo, não era permitido as pessoas serem felizes , expressarem a sua essência através das coisas simples da vida. Tão pouco era permitido que os outros, através da sua obra, pudessem conectar-se com esse belo.
Maria, na outra vida, despediu-se dela com grande angústia...

Nesta vida, Maria nasceu no seio de uma família rígida, inflexível... numa família que ditava ordens de comando.
Desde muito cedo, Maria pintava... adorava transpor para a tela todos os sonhos, todos os cenários idílicos para onde o seu coração a conduzia.

Seu pai, antiga patente do Exército, decidiu que era melhor para Maria ser Gestora. Uma profissão cujo futuro ele acautelaria. Um lugar numa Instituição Bancária a aguardava.

E Maria lá entrou para a faculdade e as suas telas ficaram abandonadas naquele recanto da casa, que usava sempre que queria pintar o seu mundo, aquele que a fazia feliz.

Durante os anos de estudo universitário, Maria tinha problemas no seu aparelho digestivo. Tinha dificuldade em fazer a digestão dos alimentos que ingeria e depois vieram as alergias a tantos alimentos.

Maria terminou a licenciatura em Gestão de Empresas, especializou-se na área das participações cotadas em bolsa e tal como seu pai previra, esperava-a o cargo de assessora financeira num Banco.

Ao mesmo tempo, na mesma altura, Maria encontrou uma sua amiga do tempo de faculdade.
Madalena, tinha desistido do curso de Gestão e mudou para o curso de Belas Artes. Afinal, esculpir era a verdadeira arte de Madalena. E desistiu da segurança da Gestão de Empresas e mergulhou na aventura de fazer nascer das suas mãos a sua alma de artista.
E na mesma altura que aquela Instituição Bancária esperava o SIM de Maria para o cargo de Assessora, Madalena, dona da sua galeria de arte, convidou Maria para recepcionista. Pouco mais lhe poderia pagar que o salário mínimo, mas dava-lhe a oportunidade de pintar as suas telas e ali as expor.

Maria não hesitou e naturalmente escolheu o emprego no Banco. Afinal este dava-lhe um rendimento que lhe proporcionava uma vida de conforto.

E o dia 1 de Abril foi o primeiro dia de trabalho de Maria, como Assessora Financeira.
Como não há coincidências e os acasos não existem, esta escolha foi um tremendo engano para a vida de Maria.
Maria detestava o que fazia. Rodeada de papéis e números, números e papéis, aproveitava a hora do almoço para se satisfazer, para se completar. E achava que era completamente feliz se comprasse aqueles sapatos que custavam um dinheirão; se comprasse aquele vestido de confecção exclusiva; se se submetesse àquelas dolorosas massagens corporais que lhe delineavam o corpo.
O tal salário que auferia como assessora, aliás, o bom e enorme salário que auferia, não lhe chegava para a fazer feliz.

Ao memso tempo, Maria desenvolve uma úlcera no estômago. Os seus problemas digestivos exarcebaram-se e Maria teve mesmo que ser intervencionada cirurgicamente.
Aperceberam-se os médicos que o problema de Maria era mais que uma simples úlcera... e Maria, afinal, teve que se submeter a tratamentos de quimioterapia, radioterapia...

Como para todas as pessoas que vêem a vida a chegar ao fim da linha, mas que sobrevivem e por isso decidem por-se em causa, o mesmo aconteceu com Maria. Maria também decidiu por-se em causa... E percebeu que tudo o que comprava, tudo o que julgava fazê-la feliz, mais não era do que alimento das suas frustrações. E decidiu pedir uma licença sem vencimento no Banco e dedicar-se aos outros.

Inscreveu-se como voluntária no IPO e aí visistava e sorria para todos as pessoas que, tal como ela, lutavam pela vida.

Chegava a casa triste, angustiada... não suportava o sofrimento dos outros e isso fazia-a chorar.

Uma tarde, resolve tomar um chá com a sua amiga Madalena. E esta volta a insistir e propõe a Maria, que se distraísse, que pintasse... Maria exporia na sua Galeria de Arte os seus quadros.
Mas como poderia Maria aceitar uma proposta dessas se neste momento da sua vida se dedicava aos outros?!
Até que uma noite, Maria sofreu dores fortes no seu estômago... tão fortes que quando é levada para o hospital, quando aí chega, já não mais vibrava sob a frequência da matéria.

Já na frequência da eternidade, Maria percebeu o que podia ter escolhido para sua evolução... Maria escolheu fugir de si, mesmo perante as perdas que foi tendo, e não aproveitou as oportunidades do céu... não escolheu ganhar o salário mínimo, onde tinha a oportunidade de viver o seu karma e transformá-lo em dharma: ser artista, sem perseguição e tocar os corações de outras almas, através do seu exemplo, da sua escolha, e mostrar que viver é mais importante que sobreviver. Maria escolheu não se fragilizar e preferiu ter a vida ideal aos olhos de seu pai.

Na frequência da eternidade, percebendo que precisava ainda escolher quem era, Ser Luz, através da energia íntresa à sua arte, decidiu nascer de novo... Desta vez, ciente da sua missão, escolheu nascer numa família pobre, sem qualquer recurso, num ambiente hostil, onde o belo é conceito que cuja concretização se desconhece por completo. Nesse lar, Maria vai ter que fazer tudo sozinha... Crescer sozinha, lutar pelo sonho que trouxe da outra vida ... sozinha.

Maria acabou de nascer... chamaram-lhe Maria da Natividade....!

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